Prática pode acabar com a harmonia do condomínio. Veja como o síndico pode controlar isso.

A portaria e os espaços comuns do condomínio já foram um terreno fértil para falar da vida alheia. Os locais onde moradores e funcionários observavam o entra-e-sai, quem entra, quem sai (e com quem), foram substituídos pelo ambiente virtual. Hoje, as redes sociais, especialmente o WhatsApp, oferecem terreno ainda mais fértil para essa prática tão negativa.

O comentário mais “inocente” sobre a atuação do síndico, ou sobre o vizinho que fez uma festa até altas horas, pode render histórias corrosivas. Mesmo que nunca tenha participado diretamente, com certeza você já ouviu algum desses comentários. Ou deve ter sido alvo de palavras maldosas.

“E agora, tudo ficou mais fácil por conta das redes sociais. As próprias pessoas que são alvo da fofoca contribuem para que isso aconteça se expondo em demasia. Isso é um prato cheio para a fofoca”, comenta o advogado e síndico profissional Marcio Rachkorsky.

O fato é que a arte de fazer fofoca é tão antiga quanto a existência do próprio homem. Muita gente até acha o falatório engraçado. No condomínio, especialmente, está longe de ser algo divertido.

O leva-e-traz é uma prática tóxica.

Ao contrário, um lugar que, por princípio, está organizado para a vida em comunidade, pode ter a paz minada pela fofoca. O componente emocional dos “comentários” entre vizinhos torna a situação ainda mais complicada.

“Esse ruído na comunicação instaura um clima de insegurança e pode causar diversos atritos entre os próprios condôminos. Fofoca nunca ajuda e só denigre o patrimônio daqueles que, justamente, propagam esses ruídos”, afirma Natachy Petrini, síndica profissional.

Geralmente, os ruídos surgem de coisas corriqueiras, do dia a dia. Mas essa mensagem vai se espalhando e crescendo. É o velho ditado: “quem conta um conto aumenta um ponto”.

“Infelizmente, alguns funcionários contribuem para isso. Muitas vezes, o porteiro é fofoqueiro, o zelador é fofoqueiro; e aí, nossa senhora! A coisa se alastra com muito mais rapidez”, consta Rachkorsky.

De onde vem o falatório no condomínio.

Em décadas passadas, a portaria era o grande foco do falatório. Continua sendo e dá para entender. Afinal de contas, é local de passagem de moradores e funcionários; onde se deixam recados e, eventualmente, se trocam comentários.

Hoje, porém, a portaria divide a posição com o ambiente das redes sociais. A maior fonte de fofoca, concordam os especialistas, é o WhatsApp.

“As pessoas têm a percepção de que, por estarem atrás da tela de um celular ou computador, podem afirmar inverdades, disseminar dúvidas com relação à gestão ou falar mal dos vizinhos, caluniar o síndico. E sem que haja qualquer consequência. O que não é verdade”, analisa Natachy.

Já pessoalmente, ela acrescenta, o comportamento costuma ser atenuado, mais educado e cuidadoso.

As causas mais comuns da fofoca entre vizinhos

Para Carina Abud Alvarenga, especialista em Comunicação Não-Violenta, se pensarmos no porquê das fofocas em Condomínio e em seu conteúdo, veremos que muitas delas se originam de necessidades decorrentes dos próprios disseminadores.

Alguém que gostaria de ser tratado com mais respeito pelo vizinho do apartamento de cima e, por isso não acontecer, procura defeitos e fantasia sobre a vida daquela pessoa:

“Fulana é amarga e abandonada, e ainda chega todo dia tarde da noite. Aposto que nem os filhos aguentam seu mau-humor e, por isso, ela precisa aparecer, fazendo aquele barulho infernal com o salto do sapato na minha cabeça”.

Em algumas ocasiões, acrescenta Carina, a fofoca pode vir também da dificuldade de conseguir se colocar no lugar do outro, e partir para o ataque como forma de “defesa”.

No final das contas, os especialistas concordam que o alvo mais comum das fofocas ainda é o próprio síndico. Muito difícil agradar a todos, ainda mais num ambiente em que cada morador se sente meio dono da verdade.

“Infelizmente, tem sido comum moradores afirmarem inverdades contra síndicos. Por outro lado, a jurisprudência tem se mostrado efetiva e coerente, responsabilizando aqueles que faltam com a verdade, ao espalharem fofocas de cunho calunioso”, informa Natachy.